Linha 1 do Ramal Samambaia ganha novas estações e trens, mas falta de pessoal ameaça pleno funcionamento do sistema
A tão aguardada expansão do Metrô do Distrito Federal (Metrô-DF) já está em andamento. As obras na Linha 1, no Ramal Samambaia, prometem trazer mais eficiência e conforto aos usuários do transporte público da capital. Contudo, a falta de servidores continua sendo um obstáculo apontado por especialistas e autoridades para o pleno funcionamento do sistema.
Obras em andamento e novos trens para o Metrô-DF
De acordo com o Governo do Distrito Federal (GDF), já estão em fase de finalização os canteiros das novas estações 35, 36 e da estação de energia SR63, que fazem parte da ampliação da Linha 1 no Ramal Samambaia. Essas obras são o ponto inicial para a execução completa do projeto de expansão.
Além das novas estações, outro grande destaque é a compra de 15 novos trens, investimento estimado em R$ 900 milhões, já aprovado pelo Ministério das Cidades. Segundo o deputado Max Maciel (PSOL-DF), presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da Câmara Legislativa do DF, os novos trens irão reforçar a frota atual, elevando a capacidade para 47 composições em circulação.
A expectativa é que a licitação internacional para aquisição dos trens seja concluída até 2026. O cronograma prevê a entrega do primeiro trem 24 meses após a assinatura do contrato, com um novo trem sendo entregue a cada mês até completar a frota.
Com essa modernização, o Metrô-DF projeta dobrar sua capacidade de transporte, podendo atender até 420 mil passageiros por dia útil nos próximos cinco anos.
Modernização do sistema de energia e impacto no trânsito
Outro avanço importante é a modernização do sistema de energia do metrô, que inclui a instalação de novas subestações, substituição de cabeamentos e melhorias estruturais. Essas ações buscam reduzir falhas operacionais, gerar economia e oferecer mais conforto aos usuários, principalmente no funcionamento dos sistemas de ar-condicionado.
Para o professor Otavio Henrique da Silva, especialista em engenharia urbana da Universidade de Brasília (UnB), a expansão e modernização do Metrô-DF terá um impacto direto na mobilidade urbana da capital, especialmente nos horários de pico.
“Com mais trens e intervalos menores entre as viagens, o sistema poderá atrair novos usuários, reduzindo o número de veículos particulares nas ruas e, consequentemente, o congestionamento”, afirma o professor.
Segundo ele, se parte dos usuários de carros migrar para o metrô, estima-se que cerca de 13 mil veículos a menos circulem por Brasília a cada viagem, considerando uma média de 1,5 pessoa por carro.
Déficit de servidores segue como principal desafio
Apesar dos avanços, o déficit de pessoal continua sendo uma das maiores preocupações relacionadas ao Metrô-DF. O último concurso público da companhia foi realizado em 2013, e, desde então, o quadro funcional vem sendo reduzido. Atualmente, a empresa conta com 1.229 empregados, mas seriam necessários pelo menos 680 novos servidores para atender plenamente às demandas da expansão.
O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 prevê apenas 299 nomeações, o que cobre apenas 43% da necessidade atual. Mesmo com a pressão do legislativo e da sociedade civil, o número ainda é considerado insuficiente.
Para o especialista em mobilidade Wellington Matos, membro do Instituto de Gestão de Trânsito, investir em pessoal é tão fundamental quanto adquirir novos trens:
“Sem profissionais qualificados, não adianta ampliar a estrutura. É preciso garantir o bom funcionamento e o atendimento adequado à população”, destaca.
Reclamações de usuários e qualidade do serviço
Entre os usuários, as reclamações são recorrentes. A aposentada Conceição Ferreira, moradora do Sol Nascente, relata que os trens circulam lotados nos horários de pico e a lentidão atrapalha o trajeto:
“De manhã, a gente se arrasta, o metrô vai muito devagar de uma estação para outra”, conta.
A professora Letícia Caroling, também moradora do Sol Nascente, critica a instabilidade do serviço:
“Pelo menos uma vez por mês o metrô quebra, falta energia ou tem problema nos cabos. Morei em São Paulo e lá o metrô funciona muito melhor”, compara.
Já o desenvolvedor de software Matheus Roberto, morador de Águas Claras, relata que frequentemente desiste de embarcar por conta da superlotação:
“Prefiro esperar o próximo trem, mesmo que demore 20 ou 30 minutos”, afirma.
Para ele, além de reforçar a frota, é fundamental aumentar a frequência de viagens nos horários de pico e planejar a criação de novas linhas.
Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) e próximos passos
Segundo a Secretaria de Mobilidade do DF (Semob-DF), a expansão do metrô faz parte do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), elaborado em 2011. O documento aponta diretrizes e políticas de transporte para o DF, incluindo linhas de metrô, corredores BRT e novas vias.
Para atualizar o PDTU e discutir o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS), será realizada uma audiência pública no próximo sábado, às 9h, no auditório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com transmissão ao vivo pela internet. O evento é aberto à participação da sociedade civil, empresas e demais interessados.
Como é a estrutura atual do Metrô-DF
Atualmente, o Metrô-DF possui 42,38 km de extensão, conectando a área central de Brasília às regiões administrativas de Ceilândia e Samambaia. Diariamente, entre 160 mil e 180 mil passageiros utilizam o sistema, que atende pontos estratégicos como Asa Sul, Setor Policial Sul, Guará, Águas Claras, Taguatinga e Park Way.
O formato da via é em “Y”, com um eixo principal de 19,19 km que liga a Estação Central (Rodoviária do Plano Piloto) à Estação Águas Claras. A partir dali, o ramal se divide: um trecho de 14,31 km segue até Ceilândia Norte, e o outro, com 8,8 km, atende Samambaia.
Conclusão: Expansão traz esperança, mas falta de servidores gera alerta
A expansão do Metrô-DF representa um avanço necessário para a mobilidade urbana de Brasília, prometendo mais conforto, rapidez e eficiência. No entanto, sem o reforço no quadro de servidores, todo o investimento em infraestrutura e novos trens pode não atingir o potencial esperado.
O desafio agora é alinhar obras, modernização e contratação de pessoal, garantindo que o sistema funcione plenamente e atenda às necessidades da população do Distrito Federal.
Fonte: TubShow - Seu portal de informações sobre mobilidade urbana, infraestrutura e cotidiano no DF.